quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Espiritualidade, dúvidas e o Natal

Rosilene G. Ribeiro

Com o passar do tempo nossa visão de mundo e das pessoas vai alterando-se. Isso devido ao contato com uma diversidade cada vez maior de lugares e pessoas em inusitadas ou comuns situações. Alguns de nós temos o privilégio de ter transitado em meios bem distintos entre si. Podem ser cidades diferentes ou espaços desiguais dentro de uma mesma cidade. Em se tratando do Brasil, pode-se perfeitamente ter a impressão de mudança de cidade dentro de uma mesma cidade, ou de país dentro do mesmo país. Enfim, nossa maturidade só é possível graças a experiências com o novo, o diferente. Em relação à espiritualidade o mesmo princípio é cabível. Nessa área da existência humana, as diversidades associam-se entre si e dançam a um ritmo paradoxal, formando uma bela coreografia. Espírito e matéria, sagrado e profano, reverência e humor, fé e dúvida, Céu e Terra, Deus e o Homem.
A aparente contradição entre esses termos diminuem com o avançar dos anos e já não é mais tão simples defini-los, aliás, as “definições” transformam-se em “conceitos”. E então surgem as saudáveis questões: Onde exatamente está o limite entre o espírito e a matéria? Será que o primeiro é mesmo um espectro flutuante absolutamente oposto ao concreto? Quem pode nos convencer de que uma risada de criança, captada por nossa humana audição, ou o sorriso estampado na face de quem a gente ama, e vistos por nossos olhos, que nos dão tanto prazer, não sejam espirituais?
O sagrado, desgastadamente associado à religião, por que não enxergá-lo no cotidiano, quem nunca sentiu um sabor ou cheiro divinos, não recebeu um abraço ou sentiu o calor de outro corpo que o fez transcender? Alguém tem coragem de dizer que isso é profano?
Reverência e humor precisam ser antônimos? Qual a razão de associar respeito a mau-humor? Será que alegria, prazer e fruição não podem nos levar à deferência muito mais do que imaginamos?
A Dúvida tem sempre que percorrer a contramão da ? Não será possível que daquela nasça esta ou que a fé renasça muito mais forte depois da dúvida?
Dá para fechar os olhos para a beleza celestial das cores combinadas do mar, areia, pedras e folhas em uma praia? De onde será que vem a expressão “paradisíaco” para nos referirmos a lugares encantadores da Terra?
Finalmente, pergunto-me se é possível dizer que Deus está distante do Homem quando me lembro da Encarnação, onde Deus desceu as escadas e encontrou-se conosco, e não sendo isto o bastante, Deus tornou-se como nós.
Com o passar do tempo e o acumular de experiências, tenho mais perguntas que respostas, e essas questões fazem aumentar em mim certezas que vão se fortalecendo e dando forma a espiritualidade que encontro em mim. Natal para mim já foi a visita do papai Noel... Já foi o prazer da ceia... Já foi a beleza dos fogos... Já foi a esperada época de férias escolares... Mas hoje é o solene encontro entre Deus e o Homem. É o memorial de celebração do Deus-Homem, do Homem-Deus que abriu as esperanças de que outras realidades também se fundam, de que o tremendo invada o ordinário, quando isso acontecer, não será para dividir novamente a História, será para marcar seu FIM.

2 comentários:

sevejocosilva disse...

..Não será para dividir novamente a História, será para marcar seu fim...
Essa conclusão é bastante linear. Me faz lembrar um conceito econômico "ceteris paribus", ou seja: se nada se alterar; acontecerá assim.
Vamos esperar, poderá acontecerá, mas, certamente, não será o fim.
É o que penso...

Lene disse...

Falo de Fim do ponto de vista cristão. O retorno de Cristo marcará o início de "novo c~eu e nova terra" Ap 21.1