sábado, 23 de janeiro de 2010

Poema de cordel


Muito bonito esse poema de cordel. Vale a pena ler até o fim.

EMBOLADA DO MUNDO DE SHAKESPEARE
Walter Medeiros

Vou contar, vou contar...

Quero contar pra vocês
Uma história interessante
De um povo bem falante
Pois agora é minha vez

Vou contar, vou contar...

Shakspeare é o autor
Da história de Otelo
Não sei se era donzelo
Pois nisso ele não falou

Vou contar, vou contar...

Desdêmona, sua mulher
Gerava desconfiança
Pois usava até trança
Iludindo a boa fé

Vou contar, vou contar...

Iago era o alferes
Um homem muito ardiloso
Dizem que era até dengoso
No trato com as mulheres

Vou contar, vou contar...

Ele convenceu Otelo
De que a sua bela esposa
Corria mais que raposa
Atrás de um homem mais belo

Vou contar, vou contar...
Iago roubou um lenço
Que só Desdêmona tinha
E com sua ma fé todinha
Deixou Otelo suspenso

Vou contar, vou contar...

Aquele alferes tão falso
Fez mais uma presepada
Pois o lenço da coitada
Ele entregou a Cássio.

Vou contar, vou contar...

E Otelo inda dizia
Para seu amigo Iago
Que o assunto era vago
Ruindade nela não via

Vou contar, vou contar...

A coisa era mais braba
Pois com tal descaramento
O Cássio, que home nojento,
Passou o lenço na barba

Vou contar, vou contar...

Pois o mouro de Veneza
Como Otelo era chamado
Findou sendo corneado
Em sua vida burguesa

Vou contar, vou contar...


Ele era um mouro nobre
Que a República servia
Trabalhava noite e dia
Em meio a ferro e cobre
Vou contar, vou contar...

Ao seu redor, senador,
Fidalgo e o alferes
Tinha o bobo e as mulheres
Nem amante ali faltou

Vou contar, vou contar...

Marinheiro, oficiais,
Gentis homens, mensageiros,
Arautos e violeiros,
Quase ele não tinha paz

Vou contar, vou contar...

Mas não foi só sobre Otelo
Que o Shakspeare escreveu
Ele também discorreu
Sobre floresta e castelo

Vou contar, vou contar...

Ele era persuasivo
Em tudo que escrevia
Mesmo sendo fantasia
Era tudo muito vivo

Vou contar, vou contar...


Teve a Lady Macbeth
Que em sua persuasão
Convenceu o seu barão
A esquecer qualquer fé

Vou contar, vou contar...

Mandou que matasse o rei
Parecia até seu dono
Pois ela queria o trono
Mesmo por cima da lei.

Vou contar, vou contar...

Era muito egoísmo,
Invejas e ambições,
Dores, ciúmes, paixões,
Tinha até muito cinismo

Vou contar, vou contar...

Teve o Próspero, coitado!
Que numa estranha aliança
Buscou a sua vingança
Em espíritos aliado.

Vou contar, vou contar...

A maldade se reveza
Nas horas e nos minutos
Pois Cassius convenceu Brutus
A matar o Júlio César

Vou contar, vou contar...

E o rei da Dinamarca
Em fantasma transformado
Convenceu seu filho amado
Hamlet a lhe vingar.

Vou contar, vou contar...

E Romeu e Julieta
Que coisa triste e brutal
Era um feliz casal
Montéquio e Capuleto

Vou contar, vou contar...

Pois tanto eles se amaram
Mesmo contra os seus pais
Odientos e brutais
Que enfim se suicidaram.

Vou contar, vou contar...

Ainda nessa viagem
Encontramos a megera
Que nunca se desespera
Mas que levou desvantagem

Vou contar, vou contar...

O Petrúquio quem domou
A Catarina arredia
Dócil feito uma cotia
Submissa ela ficou

Vou contar, vou contar...

Aquele autor memorável
Mostrou a fraqueza humana
De forma muito bacana
Por isto é recomendável

Vou contar, vou contar...

Falou de força, fraqueza,
Também de felicidade,
Gozo, angústia, vaidade,
Era tudo uma beleza

Vou contar, vou contar.

Shakspeare era fantástico
Dizem muitos entendidos
Em seus romances sabidos
Era leve e era drástico
Vou contar, vou contar...

Escrevendo tudo à mão
Era um autor medonho
Basta ler sobre o sonho
De uma noite de verão

Vou contar, vou contar...

Ali foi muito completo
Para Hermínia e Lisandro
Que de um elfo foi ganhando
Aquele seu novo afeto

Vou contar, vou contar...

Inefável, uma beleza
Que só pode emocionar
Quando ler e apreciar
O mercador de veneza

Vou contar, vou contar...

É uma tragicomédia
Onde Pórcia e Bassânio
Tiveram idéia de crânio
Shilock abala a platéia

Vou contar, vou contar...

Agora vou acabar
Pois senão acaba a graça
Vão ler o texto da farsa
Que eu quero agora lanchar

Vou contar, vou contar...

Por isso aqui me despeço
Vou saindo de fininho
Mas tudo eu fiz com carinho
Neste montinho de verso.

Maluquices do H


MALUQUICES DO H
Pedro Bandeira


O H é letra incrível,
muda tudo de repente.
Onde ele se intromete
tudo fica diferente...

Se você vem para ,
vamos juntos tomar chá.

Se o sono aparece,
tem um sonho e adormece.

Se sai galo do poleiro
pousa no galho ligeiro.

Se a velha quiser ler,
vai a vela acender.

Se na fila está a avó,
vira filha veja só!

Se da bolha ele escapar,
uma bola vai virar.

Se o bicho perde o H,
com um bico vai ficar.

Hora escrita sem H
ora bolas vai virar.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Pérolas da redação do Enem 2008



Não sou neurótica por perfeição ortográfica, sei que errar é humano. Mas... não dá para ignorar alguns massacres à Língua de Camões, massacres estilísticos, semânticos, estilísticos, etc.

O tema da redação do Enem 2008 foi Aquecimento Global, e como acontece todo ano, não faltaram preciosidades.

Lá vão:

1) "o problema da amazônia tem uma percussão mundial. Várias Ongs já se estalaram na floresta."
(percussão e estalos. Vai ficar animado o negócio)
2) "A amazônia é explorada de forma piedosa." (boa)

3) "Vamos nos unir juntos de mãos dadas para salvar planeta."
(tamo junto nessa, companheiro. Mais juntos, impossível)

4) "A floresta tá ali paradinha no lugar dela e vem o homem e créu."
(e na velocidade 5!)

5) "Tem que destruir os destruidores por que o destruimento salva a floresta."
(pra deixar bem claro o tamanho da destruição)

6) "O grande excesso de desmatamento exagerado é a causa da devastação."
(pleonasmo é a lei)

7) "Espero que o desmatamento seja instinto."
(selvagem)

8) "A floresta está cheia de animais já extintos. Tem que parar de desmatar para que os animais que estão extintos possam se reproduzirem e aumentarem seu número respirando um ar mais limpo."
(o verdadeiro milagre da vida)

9) "A emoção de poluentes atmosféricos aquece a floresta."
(também fiquei emocionado com essa)

10) "Tem empresas que contribui para a realização de árvores renováveis."
(todo mundo na vida tem que ter um filho, escrever um livro, e realizar uma árvore renovável)

11) "Animais ficam sem comida e sem dormida por causa das queimadas."
(esqueceu que também ficam sem o home theater e os dvd's da coleção do Chaves)

12) "Precisamos de oxigênio para nossa vida eterna."
(amém)

13) "Os desmatadores cortam árvores naturais da natureza." (e as renováveis?)

14) "A principal vítima do desmatamento é a vida ecológica."
(deve ser culpa da morte ecológica)

15) "A amazônia tem valor ambiental ilastimável."
(ignorem, por favor)

16) "Explorar sem atingir árvores sedentárias"
(peguem só as que estiverem fazendo caminhadas e flexões)

17) "Os estrangeiros já demonstraram diversas fezes enteresse pela amazônia."
(o quê?)

18) "Paremos e reflitemos." (beleza)

19) "A floresta amazônica não pode ser destruída por pessoas não autorizadas." (onde está o Guarda Belo nessas horas?)

20) "Retirada claudestina de árvores." (sem comentários)

21) "Temos que criar leis legais contra isso." (bacana)

22) "A camada de ozonel." (Chris O'Zonnell?)

23) "a amazônia está sendo devastada por pessoas que não tem senso de humor."
(a solução é colocar lá o pessoal da Zorra Total pra cortar árvores)

24) "A cada hora, muitas árvores são derrubadas por mãos poluídas, sem coração." (zzzz....)

25) "A amazônia está sofrendo um grande, enorme e profundíssimo desmatamento devastador, intenso e imperdoável." (campeão da categoria "maior enchedor de lingüiça")

26) "Vamos gritar não à devastação e sim à reflorestação."
(NÃO!)

27) "Uma vez que se paga uma punição xis, se ganha depois vários xises."
(gênio da matemática)

28) "A natureza está cobrando uma atitude mais energética dos governantes."
(red bull neles - dizem as árvores)

29) "O povo amazônico está sendo usado como bote expiatório" (ótima)

30) "O aumento da temperatura na terra está cada vez mais aumentando." (subindo!)

31) "Na floresta amazônica tem muitos animais: passarinhos, leões, ursos, etc."
(deve ser a globalização)

32) "Convivemos com a merchendagem e a politicagem."
(gzus)

33) "Na cama dos deputados foram votadas muitas leis."
(imaginem as que foram votadas no banheiro deles)

34) "Os dismatamentos é a fonte de inlegalidade e distruição da froresta amazonia."
(oh god)

35) "O que vamos deixar para nossos antecedentes?" (dicionários)

"Metalinguando"



Esta redação foi destacada como exemplo de criatividade por uma corretora de redações da FUVEST em uma palestra a estudantes de Letras . Bem interessante. Infelizmente não sei o nome do autor. Contudo, vale a pena ler...


Escrever...

Um aluno diante da prova de redação do vestibular, praticamente paralisado. Um cronista conhecido debruçado, às três da manhã, sobre a folha que, embora ainda vazia, deverá estar cheia e bem cheia (qualitativamente falando), sobre a mesa de um editor em menos de cinco horas. O que duas figuras tão diferentes, porém tão igualmente angustiadas, têm em comum? Simples. Ambos têm um trabalho de Hércules a cumprir: escrever!
A dificuldade de escrever tem sido tema de um número não muito pequeno de autores, alguns anônimos, outros conhecidos e reconhecidos. São raros os autores que nunca tenham feito referência, mesmo que sutil, a essa missão quase impossível que é escrever.
As preocupações variam. Nós, pobres mortais, temos preocupações básicas: a gramática, a estrutura, o tema, o título. Ah, o título! Este é o campeão das preocupações do "escritor pobre mortal". Por isso, não é raro nos esquecermos dele, sintoma de algum processo de rejeição... Talvez a psicanálise explique...
Por outro lado, existem as preocupações mais apuradas, aquelas a que se dedicam os grandes mestres da arte: a métrica, a forma, o estilo. O cuidado com as figuras de linguagem, já que qualquer erro pode transformar um pleonasmo de figura em vício de linguagem por excesso de repetição. São perigosos os caminhos da Língua.
Mas há uma preocupação que é fundamental, que atinge indistintamente todos os autores (ou similares), que é o leitor. O leitor aparece em todos os pesadelos do autor, seja o leitor anônimo das grandes bibliotecas, ou o corretor da redação do vestibular (este principalmente). O leitor é o X da questão , é aquele a quem devemos nos dirigir e, no entanto, não sabemos quem é, o que pensa, ou o que espera de nós. Pensando nisso, podemos chegar a uma conclusão bastante interessante. Não é à toa que grandes nomes de nossa literatura se utilizam do leitor virtual. Isso o torna, se não íntimo, pelo menos conhecido. O que, convenhamos, jé é alguma coisa.
É, a arte de escrever necessita mais que arte. necessita manha, Arte e manha. Artimanha.