sábado, 13 de fevereiro de 2010

sábado, 23 de janeiro de 2010

Poema de cordel


Muito bonito esse poema de cordel. Vale a pena ler até o fim.

EMBOLADA DO MUNDO DE SHAKESPEARE
Walter Medeiros

Vou contar, vou contar...

Quero contar pra vocês
Uma história interessante
De um povo bem falante
Pois agora é minha vez

Vou contar, vou contar...

Shakspeare é o autor
Da história de Otelo
Não sei se era donzelo
Pois nisso ele não falou

Vou contar, vou contar...

Desdêmona, sua mulher
Gerava desconfiança
Pois usava até trança
Iludindo a boa fé

Vou contar, vou contar...

Iago era o alferes
Um homem muito ardiloso
Dizem que era até dengoso
No trato com as mulheres

Vou contar, vou contar...

Ele convenceu Otelo
De que a sua bela esposa
Corria mais que raposa
Atrás de um homem mais belo

Vou contar, vou contar...
Iago roubou um lenço
Que só Desdêmona tinha
E com sua ma fé todinha
Deixou Otelo suspenso

Vou contar, vou contar...

Aquele alferes tão falso
Fez mais uma presepada
Pois o lenço da coitada
Ele entregou a Cássio.

Vou contar, vou contar...

E Otelo inda dizia
Para seu amigo Iago
Que o assunto era vago
Ruindade nela não via

Vou contar, vou contar...

A coisa era mais braba
Pois com tal descaramento
O Cássio, que home nojento,
Passou o lenço na barba

Vou contar, vou contar...

Pois o mouro de Veneza
Como Otelo era chamado
Findou sendo corneado
Em sua vida burguesa

Vou contar, vou contar...


Ele era um mouro nobre
Que a República servia
Trabalhava noite e dia
Em meio a ferro e cobre
Vou contar, vou contar...

Ao seu redor, senador,
Fidalgo e o alferes
Tinha o bobo e as mulheres
Nem amante ali faltou

Vou contar, vou contar...

Marinheiro, oficiais,
Gentis homens, mensageiros,
Arautos e violeiros,
Quase ele não tinha paz

Vou contar, vou contar...

Mas não foi só sobre Otelo
Que o Shakspeare escreveu
Ele também discorreu
Sobre floresta e castelo

Vou contar, vou contar...

Ele era persuasivo
Em tudo que escrevia
Mesmo sendo fantasia
Era tudo muito vivo

Vou contar, vou contar...


Teve a Lady Macbeth
Que em sua persuasão
Convenceu o seu barão
A esquecer qualquer fé

Vou contar, vou contar...

Mandou que matasse o rei
Parecia até seu dono
Pois ela queria o trono
Mesmo por cima da lei.

Vou contar, vou contar...

Era muito egoísmo,
Invejas e ambições,
Dores, ciúmes, paixões,
Tinha até muito cinismo

Vou contar, vou contar...

Teve o Próspero, coitado!
Que numa estranha aliança
Buscou a sua vingança
Em espíritos aliado.

Vou contar, vou contar...

A maldade se reveza
Nas horas e nos minutos
Pois Cassius convenceu Brutus
A matar o Júlio César

Vou contar, vou contar...

E o rei da Dinamarca
Em fantasma transformado
Convenceu seu filho amado
Hamlet a lhe vingar.

Vou contar, vou contar...

E Romeu e Julieta
Que coisa triste e brutal
Era um feliz casal
Montéquio e Capuleto

Vou contar, vou contar...

Pois tanto eles se amaram
Mesmo contra os seus pais
Odientos e brutais
Que enfim se suicidaram.

Vou contar, vou contar...

Ainda nessa viagem
Encontramos a megera
Que nunca se desespera
Mas que levou desvantagem

Vou contar, vou contar...

O Petrúquio quem domou
A Catarina arredia
Dócil feito uma cotia
Submissa ela ficou

Vou contar, vou contar...

Aquele autor memorável
Mostrou a fraqueza humana
De forma muito bacana
Por isto é recomendável

Vou contar, vou contar...

Falou de força, fraqueza,
Também de felicidade,
Gozo, angústia, vaidade,
Era tudo uma beleza

Vou contar, vou contar.

Shakspeare era fantástico
Dizem muitos entendidos
Em seus romances sabidos
Era leve e era drástico
Vou contar, vou contar...

Escrevendo tudo à mão
Era um autor medonho
Basta ler sobre o sonho
De uma noite de verão

Vou contar, vou contar...

Ali foi muito completo
Para Hermínia e Lisandro
Que de um elfo foi ganhando
Aquele seu novo afeto

Vou contar, vou contar...

Inefável, uma beleza
Que só pode emocionar
Quando ler e apreciar
O mercador de veneza

Vou contar, vou contar...

É uma tragicomédia
Onde Pórcia e Bassânio
Tiveram idéia de crânio
Shilock abala a platéia

Vou contar, vou contar...

Agora vou acabar
Pois senão acaba a graça
Vão ler o texto da farsa
Que eu quero agora lanchar

Vou contar, vou contar...

Por isso aqui me despeço
Vou saindo de fininho
Mas tudo eu fiz com carinho
Neste montinho de verso.

Maluquices do H


MALUQUICES DO H
Pedro Bandeira


O H é letra incrível,
muda tudo de repente.
Onde ele se intromete
tudo fica diferente...

Se você vem para ,
vamos juntos tomar chá.

Se o sono aparece,
tem um sonho e adormece.

Se sai galo do poleiro
pousa no galho ligeiro.

Se a velha quiser ler,
vai a vela acender.

Se na fila está a avó,
vira filha veja só!

Se da bolha ele escapar,
uma bola vai virar.

Se o bicho perde o H,
com um bico vai ficar.

Hora escrita sem H
ora bolas vai virar.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Pérolas da redação do Enem 2008



Não sou neurótica por perfeição ortográfica, sei que errar é humano. Mas... não dá para ignorar alguns massacres à Língua de Camões, massacres estilísticos, semânticos, estilísticos, etc.

O tema da redação do Enem 2008 foi Aquecimento Global, e como acontece todo ano, não faltaram preciosidades.

Lá vão:

1) "o problema da amazônia tem uma percussão mundial. Várias Ongs já se estalaram na floresta."
(percussão e estalos. Vai ficar animado o negócio)
2) "A amazônia é explorada de forma piedosa." (boa)

3) "Vamos nos unir juntos de mãos dadas para salvar planeta."
(tamo junto nessa, companheiro. Mais juntos, impossível)

4) "A floresta tá ali paradinha no lugar dela e vem o homem e créu."
(e na velocidade 5!)

5) "Tem que destruir os destruidores por que o destruimento salva a floresta."
(pra deixar bem claro o tamanho da destruição)

6) "O grande excesso de desmatamento exagerado é a causa da devastação."
(pleonasmo é a lei)

7) "Espero que o desmatamento seja instinto."
(selvagem)

8) "A floresta está cheia de animais já extintos. Tem que parar de desmatar para que os animais que estão extintos possam se reproduzirem e aumentarem seu número respirando um ar mais limpo."
(o verdadeiro milagre da vida)

9) "A emoção de poluentes atmosféricos aquece a floresta."
(também fiquei emocionado com essa)

10) "Tem empresas que contribui para a realização de árvores renováveis."
(todo mundo na vida tem que ter um filho, escrever um livro, e realizar uma árvore renovável)

11) "Animais ficam sem comida e sem dormida por causa das queimadas."
(esqueceu que também ficam sem o home theater e os dvd's da coleção do Chaves)

12) "Precisamos de oxigênio para nossa vida eterna."
(amém)

13) "Os desmatadores cortam árvores naturais da natureza." (e as renováveis?)

14) "A principal vítima do desmatamento é a vida ecológica."
(deve ser culpa da morte ecológica)

15) "A amazônia tem valor ambiental ilastimável."
(ignorem, por favor)

16) "Explorar sem atingir árvores sedentárias"
(peguem só as que estiverem fazendo caminhadas e flexões)

17) "Os estrangeiros já demonstraram diversas fezes enteresse pela amazônia."
(o quê?)

18) "Paremos e reflitemos." (beleza)

19) "A floresta amazônica não pode ser destruída por pessoas não autorizadas." (onde está o Guarda Belo nessas horas?)

20) "Retirada claudestina de árvores." (sem comentários)

21) "Temos que criar leis legais contra isso." (bacana)

22) "A camada de ozonel." (Chris O'Zonnell?)

23) "a amazônia está sendo devastada por pessoas que não tem senso de humor."
(a solução é colocar lá o pessoal da Zorra Total pra cortar árvores)

24) "A cada hora, muitas árvores são derrubadas por mãos poluídas, sem coração." (zzzz....)

25) "A amazônia está sofrendo um grande, enorme e profundíssimo desmatamento devastador, intenso e imperdoável." (campeão da categoria "maior enchedor de lingüiça")

26) "Vamos gritar não à devastação e sim à reflorestação."
(NÃO!)

27) "Uma vez que se paga uma punição xis, se ganha depois vários xises."
(gênio da matemática)

28) "A natureza está cobrando uma atitude mais energética dos governantes."
(red bull neles - dizem as árvores)

29) "O povo amazônico está sendo usado como bote expiatório" (ótima)

30) "O aumento da temperatura na terra está cada vez mais aumentando." (subindo!)

31) "Na floresta amazônica tem muitos animais: passarinhos, leões, ursos, etc."
(deve ser a globalização)

32) "Convivemos com a merchendagem e a politicagem."
(gzus)

33) "Na cama dos deputados foram votadas muitas leis."
(imaginem as que foram votadas no banheiro deles)

34) "Os dismatamentos é a fonte de inlegalidade e distruição da froresta amazonia."
(oh god)

35) "O que vamos deixar para nossos antecedentes?" (dicionários)

"Metalinguando"



Esta redação foi destacada como exemplo de criatividade por uma corretora de redações da FUVEST em uma palestra a estudantes de Letras . Bem interessante. Infelizmente não sei o nome do autor. Contudo, vale a pena ler...


Escrever...

Um aluno diante da prova de redação do vestibular, praticamente paralisado. Um cronista conhecido debruçado, às três da manhã, sobre a folha que, embora ainda vazia, deverá estar cheia e bem cheia (qualitativamente falando), sobre a mesa de um editor em menos de cinco horas. O que duas figuras tão diferentes, porém tão igualmente angustiadas, têm em comum? Simples. Ambos têm um trabalho de Hércules a cumprir: escrever!
A dificuldade de escrever tem sido tema de um número não muito pequeno de autores, alguns anônimos, outros conhecidos e reconhecidos. São raros os autores que nunca tenham feito referência, mesmo que sutil, a essa missão quase impossível que é escrever.
As preocupações variam. Nós, pobres mortais, temos preocupações básicas: a gramática, a estrutura, o tema, o título. Ah, o título! Este é o campeão das preocupações do "escritor pobre mortal". Por isso, não é raro nos esquecermos dele, sintoma de algum processo de rejeição... Talvez a psicanálise explique...
Por outro lado, existem as preocupações mais apuradas, aquelas a que se dedicam os grandes mestres da arte: a métrica, a forma, o estilo. O cuidado com as figuras de linguagem, já que qualquer erro pode transformar um pleonasmo de figura em vício de linguagem por excesso de repetição. São perigosos os caminhos da Língua.
Mas há uma preocupação que é fundamental, que atinge indistintamente todos os autores (ou similares), que é o leitor. O leitor aparece em todos os pesadelos do autor, seja o leitor anônimo das grandes bibliotecas, ou o corretor da redação do vestibular (este principalmente). O leitor é o X da questão , é aquele a quem devemos nos dirigir e, no entanto, não sabemos quem é, o que pensa, ou o que espera de nós. Pensando nisso, podemos chegar a uma conclusão bastante interessante. Não é à toa que grandes nomes de nossa literatura se utilizam do leitor virtual. Isso o torna, se não íntimo, pelo menos conhecido. O que, convenhamos, jé é alguma coisa.
É, a arte de escrever necessita mais que arte. necessita manha, Arte e manha. Artimanha.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Uma redação imprópria para menores



Redação muito criativa de uma aluna da UFPE...


Mas... imprópria pra menores...

'Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto. Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar. Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto. Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros. Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise,e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta. Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história. Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edificio. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino. O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.'

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Espiritualidade, dúvidas e o Natal

Rosilene G. Ribeiro

Com o passar do tempo nossa visão de mundo e das pessoas vai alterando-se. Isso devido ao contato com uma diversidade cada vez maior de lugares e pessoas em inusitadas ou comuns situações. Alguns de nós temos o privilégio de ter transitado em meios bem distintos entre si. Podem ser cidades diferentes ou espaços desiguais dentro de uma mesma cidade. Em se tratando do Brasil, pode-se perfeitamente ter a impressão de mudança de cidade dentro de uma mesma cidade, ou de país dentro do mesmo país. Enfim, nossa maturidade só é possível graças a experiências com o novo, o diferente. Em relação à espiritualidade o mesmo princípio é cabível. Nessa área da existência humana, as diversidades associam-se entre si e dançam a um ritmo paradoxal, formando uma bela coreografia. Espírito e matéria, sagrado e profano, reverência e humor, fé e dúvida, Céu e Terra, Deus e o Homem.
A aparente contradição entre esses termos diminuem com o avançar dos anos e já não é mais tão simples defini-los, aliás, as “definições” transformam-se em “conceitos”. E então surgem as saudáveis questões: Onde exatamente está o limite entre o espírito e a matéria? Será que o primeiro é mesmo um espectro flutuante absolutamente oposto ao concreto? Quem pode nos convencer de que uma risada de criança, captada por nossa humana audição, ou o sorriso estampado na face de quem a gente ama, e vistos por nossos olhos, que nos dão tanto prazer, não sejam espirituais?
O sagrado, desgastadamente associado à religião, por que não enxergá-lo no cotidiano, quem nunca sentiu um sabor ou cheiro divinos, não recebeu um abraço ou sentiu o calor de outro corpo que o fez transcender? Alguém tem coragem de dizer que isso é profano?
Reverência e humor precisam ser antônimos? Qual a razão de associar respeito a mau-humor? Será que alegria, prazer e fruição não podem nos levar à deferência muito mais do que imaginamos?
A Dúvida tem sempre que percorrer a contramão da ? Não será possível que daquela nasça esta ou que a fé renasça muito mais forte depois da dúvida?
Dá para fechar os olhos para a beleza celestial das cores combinadas do mar, areia, pedras e folhas em uma praia? De onde será que vem a expressão “paradisíaco” para nos referirmos a lugares encantadores da Terra?
Finalmente, pergunto-me se é possível dizer que Deus está distante do Homem quando me lembro da Encarnação, onde Deus desceu as escadas e encontrou-se conosco, e não sendo isto o bastante, Deus tornou-se como nós.
Com o passar do tempo e o acumular de experiências, tenho mais perguntas que respostas, e essas questões fazem aumentar em mim certezas que vão se fortalecendo e dando forma a espiritualidade que encontro em mim. Natal para mim já foi a visita do papai Noel... Já foi o prazer da ceia... Já foi a beleza dos fogos... Já foi a esperada época de férias escolares... Mas hoje é o solene encontro entre Deus e o Homem. É o memorial de celebração do Deus-Homem, do Homem-Deus que abriu as esperanças de que outras realidades também se fundam, de que o tremendo invada o ordinário, quando isso acontecer, não será para dividir novamente a História, será para marcar seu FIM.

sábado, 12 de dezembro de 2009

PERFEITA METÁFORA


MURALHAS

Desde os tempos de criança agora sei
A tua graça esteve sobre mim
Lá em casa eu aprendi a te amar
E a cada dia Fostes sendo meu

Por tantas vezes quase que eu morri
Mas tinhas muita vida pr'eu viver
E quando eu tentei fugir de ti
Fiquei sabendo o tanto que sou teu

Ah ! hoje eu sei que estavas ali
Quando eu tive que em fim me enxergar
A minha alma chorava a seu modo
Escrevendo canções para ti

Ah! me seguiste por tantas esquinas
Me guardaste nos becos sombrios
Me levaste aos porões da minha alma
Me trouxeste de volta pra casa

HOJE EU SEI QUE ESTAVAS ALI
EU VIVI ENTRE AS FORTES MURALHAS
QUE TUA GRAÇA ERGUEU SOBRE MIM
ANTES MESMO DO TEMPO EXISTIR
Stênio Marcius

Essa música belíssima traduz, com brilhantismo, uma oração interna que minha alma faz a Deus.
É desse jeito que O reconheço em minha história... em cada época, nos risos, nas lágrimas, em todos os sinuosos caminhos de minha jornada. SUA GRAÇA é essa perfeita metáfora: "MURALHA", erguida ao meu redor preservando-me sempre, é forte, imutável, constante, eterna.

Soli deo gloria

sábado, 7 de novembro de 2009

Aprendi com algumas leituras deste ano...

Amor de perdição - Camilo Castelo Branco:

1-Eu odeio Simão Botelho; ( Ainda crio uma comunidade no Orkut com esse nome!)

2- Mariana deveria ter entrado no poema "Quadrilha" do Drummond;

3- Mulheres como Teresa não existem;

As pupilas do senhor reitor- João Dinis:

1- A beleza não põe mesa;

2- Já agi feito a Margarida, aliás, me acho parecidíssima com ela;

3- Pedro devia ser "moreno, alto, forte e espadaudo";

4- Homens como Daniel fazem mulheres como eu e a Margarida sofrermos;

5- Adorei a lição do Reitor sobre jogatina;


Poemas de Gregório de Mattos:

1-Esse cara era muito louco;

2-Ainda bem que eu não o conheci, sou mulata! ;

Iracema- José de Alencar

1-"Iracema é que era mulher de verdade..."- claro descontados os exageros românticos

Senhora- José de Alencar

1-O troco que toda mulher quer um dia poder dar...


O primo Basílio: Eça de Queirós:

1- Basílio é a reunião de muita testosterona e canalhice;

2- Luísa, ah! Luísa, "Que burra! Dá zero pra ela!"

3- Mulheres como Luísa dão sentido a existência de homens como Basílio;
4- Juliana é a personagem mais realista da história;

O país das uvas - Fialho de Almeida:

1-Muito nojentas as fialhices do Fialho, naturalíssimo impressionista!

Memórias Póstumas de Brás Cubas e o conto "pai contra mãe" - Machado de Assis:

1- O gênio literário se fez carne e habitou entre nós... Ilustre mulato!"


2- Adoro as malcriações do Brás Cubas contra o leitor;


Calígula - Albert Camus

1-O calígula do Camus é uma caricatura do poder e suas consequências...

2-Todo ditador é meio Calígula;

3- P.s. Não assistir ao filme com o mesmo nome!

sábado, 25 de julho de 2009

Te vejo Poeta



Te vejo Poeta quando nasce o dia,
E no fim do dia quando a noite vem.
Te vejo Poeta numa flor escondida,
No vento que instiga mais um temporal.

Te vejo Poeta no andar das pessoas,
Nessas coisas boas que a vida me dá.
Te vejo Poeta na velha amizade,
Na imensa saudade que trago de lá.

Contudo O Poema, Tua obra de arte,
Destaca-se a parte numa cruz vulgar.
Custando o suplício de Teu filho amado,
mais alta expressão do ato de amar.

Te vejo Poeta...

João Alexandre

MILAGRE EDITORIAL



“Se um autor vindo de uma província perdida no meio de um continente desconhecido chegasse a um editor com um manuscrito escrito em uma língua misteriosa e anunciasse que a sua obra seria traduzida em milhares de idiomas e dialetos; seria lida durante dois milênios por centenas de milhões de leitores de todas as nações da Terra; inspiraria três religiões universais: o judaísmo, o cristianismo e o Islamismo além de milhares de confissões e seitas; dissesse que sua obra provocaria revoluções e guerras, e ao mesmo tempo suscitaria com semelhante intensidade, entregas místicas e heroísmos nunca vistos; que sua obra, dois ou três milênios depois de escrita, continuaria a ser vendida em todo o mercado editorial do mundo com edições de milhões de exemplares por ano (a Sociedade Bíblica do Brasil imprime 6.000.000 de Bíblias por ano); dissesse que uma enorme parte da humanidade veria nela o último recurso e uma fonte de salvação e esperança; dissesse ainda que sua obra fora escrita por Deus através de quarenta autores diferentes, que não necessariamente foram contemporâneos entre si porque conviveram ou escreveram o texto num período aproximado de 1.500 anos, e que a sua obra é uma compilação de 66 livros... e dissesse: -Este é um livro que eu quero que você imprima e venda. Você já pode imaginar que este desconhecido com um manuscrito na mão seria considerado um louco. Se um milagre é o que torna real o impossível, estamos diante de um milagre no campo da comunicação universal”
André charak - Linguísta

sábado, 13 de junho de 2009

O Sr. mercado rsrsrs

operários- Tarsila do Amaral
O Mercado é o novo fetiche religioso da sociedade em que vivemos. Antigamente, nossos avós consultavam a Bíblia, a palavra de Deus, diante dos fatos da vida. Depois, nossos pais consultavam o serviço de meteorologia: "Será que nesses dias vai chover?" Hoje consulta-se o mercado: "Será que o dólar desvalorizou ? Subiu a Bolsa? Como funcionou o mercado de capitais?" Observem na televisão os políticos diante de uma catástrofe, de um acontecimento inesperado: " Bem, vamos ver como o Mercado reage." Fico imaginando um senhor, Mr. Mercado, trancado no seu castelo e gritando pelo telefone celular: " Não gostei desse negócio aí, estou meio irado." E, na mesma hora os telejornais destacam: "O Mercado não reagiu bem diante do acontecimento."

Crise da Modernidade e Espiritualidade - Frei Betto, em O desafio Ético.

Falou tudo Frei Betto !!!!!



"... Na Idade Média as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje no Brasil, adquirem status construindo um shopping center. É curioso: 90% dos shoppings centers têm linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles, não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. Entra-se naqueles claustros, observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo acolitados por belas sacerdotizas e ao som da musiquinha do gregoriano pós-moderno. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se tem que fazer pré-datado, pagar à crédito, então sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno: " Sou um desgraçado." Felizmente, terminamos todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo sanduíche do McDonald's... Um dos fenômenos mais marcantes do neoliberalismo é que, antes, quando eu vestia essa camisa, dava valor ao tecido, humanizava o tecido por usá-lo. Hoje, ao contrário, é a camisa, com a sua griffe, que me dá valor! E meu valor é tanto maior quanto mais griffes eu ostento! Se chegar a pé à sua casa, tenho um valor; se chegar de BMW, tenho outro valor! isso é a "reificação" ou "coisificação" do ser humano.
Crise da modernidade e Espiritualidade - Frei Betto

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Queria estar errada!




Vivemos tempos em que as exacerbadas e infinitas discussões sobre religião só tangenciam o cerne da espiritualidade que Jesus comunica com os Evangelhos. Discussões sobre quem está certo, ou errado, há muito tempo perderam o propósito de divulgar A Verdade, e não passam de pretensiosas disputas de vaidades. Faltam homens e mulheres com autoridade bíblica, moral e espiritual suficiente para, ao invés de elaborarem complexas argumentações de finalidade duvidosa, unicamente lançarem luz sobre o que de fato dizem As Escrituras.
Lançar luz sobre o que dizem as Escrituras não é tarefa fácil, exige dedicação, empenho e compromisso não com convenções ou sistemas, mas com A Verdade. Está distante de ser a enumeração de versículos automaticamente decorados e arbitrariamente proferidos, como se o número de textos que de despeja em uma discussão tivesse alguma coisa a ver com a exposição da Palavra.
É preciso LER as Escrituras para as pessoas e EXPÔ-LA com temor, no sentido mais nobre do termo. As circunstâncias em que a Bíblia tem sido “usada” podem, sem exagero, ser consideradas levianas. Tanto esforço empenhado na História para traduzir A Palavra, para expandi-La, para aproximá-La das pessoas, e justamente hoje, quando temos tantos meios de divulgá-La, Ela tem estado tão escassa na TV, no Rádio ou Internet. Essa escassez não se dá pela falta de programas, muito pelo contrário, é inversamente proporcional, a abundância de programas de Rádio e TV é acompanhada pela quase inexistência da exposição da Bíblia. Lamentável! A Bíblia e os discursos religiosos modernos estão completamente desassociados, e o resultado disso é nauseante!
A Bíblia que tenho me proposto a conhecer fala sobre Justiça Social, Amor, Simplicidade, Perdão, Humildade, Fé... Contempla as relações interdependentes do ser humano com Deus, consigo mesmo, com o próximo e com o ambiente. Tem princípios que destoam com o consumismo, egoísmo e egocentrismo vistos hoje nas plataformas. Não escrevo isso com orgulho, ou para me vangloriar da constatação, escrevo isso com profunda tristeza.
Como queria estar errada! Mas infelizmente, não estou.

Rosilene Ribeiro 24-04-09

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Poemas e Canções


Poemas e canções -
Leonardo Gonçalves

Poemas e canções a Deus sejam escritos,
Por todos os peritos a quem concedeu os dons,
Com toda maestria, e ardente sentimento,
Em verso, em instrumento, à pena, em cantoria

Proclamem com beleza a sua Criação
Os feitos de Sua mão, sua Glória e grandeza

Pois dEle vem a idéia, o movimento, a cor,
A rima, o tom, o amor, o sonho e a quimera.

Bendito o que se deu, aos nossos corações

Poemas e canções Aquele que por nós morreu

sábado, 24 de janeiro de 2009


ONDE ESTARIA EU?
( Canção composta por Stênio Marcius em 24/12/08)

Lá vem um homem
Saiu de um beco
Desceu a rua
Cruzou a praça
Em direção ao templo vai, ai meu Deus!
Traz um chicote nos ombros
Trançado por suas mãos
Lá vem um Deus
Vem decidido
Indignado
Zêlo incontido
Quem ousaria então cruzar seu caminho
Vai começar o juízo
E é pela casa de Deus
Voa cadeira, voa barraca,voa mesa e moeda
Passa boiada, passam ovelhas e os devotos da barganha
Corre quem vende, corre quem compra, corre quem intermedia
Mas o que foi alí orar permaneceu
Mas e eu, sinceramente onde estaria eu,
Ajoelhado e contrito ou correndo com medo de Deus?

sábado, 3 de janeiro de 2009

Animalidade humana






“Preciso de alguma coisa que me faça crescer, que me leve além da minha animalidade. Eu queria ser mais do que eu sou. Eu sou um animal, mas quero passar dessa animalidade e alcançar a humanidade”.


Iberê Camargo

Sonhos




"As pessoas não escolhem os sonhos que têm, São, pois, os sonhos que escolhem as pessoas."

José Saramago - O Evangelho segundo Jesus Cristo, p.143


Ah! os sonhos... Eternos companheiros da alma humana. Saramago na voz de Maria, mãe de Jesus disse: "...são os sonhos que escolhem as pessoas..." . Isso nos dá liberdade para pensar que os sonhos são pessoas que nos escolhem e acompanham. Na infância são uma multidão, tagarela, gritando caminhos, possibilidades. Então conforme os anos passam tornam-se precários e fugazes . A cada decepção, a cada tensão com a dura realidade, enfraquecem, ficam roucos, distantes... Mas ainda estão lá. Pode ser que alguns tenham a sorte de serem escolhidos por um daqueles grandes , insistentes. Luther King disse I have a dream!... , provavelmente era o sonho que tinha ele. Quando um sonho escolhe a gente, não temos muitas alternativas, vivemos cercados por pequenos lembretes de que fomos escolhidos por ele... Então , não adiantam os anos passarem ou as decepções virem... Ele não esmorece. Parece enviado por Alguém...


As pessoas não escolhem os sonhos que têm, são , pois, os sonhos que escolhem as pessoas...

Palavra de Deus





A Palavra de Deus ou é absoluta ou é obsoleta.
Vance Havner

domingo, 28 de dezembro de 2008

O poder vicia mais do que as drogas



Todo mundo conhece e cita o famoso epigrama: “O poder corrompe; o poder absoluto corrompe absolutamente”. Porém nem todos conhecem o autor da frase nem, principalmente, as circunstâncias que o levaram a enunciá-la.Por se opor veementemente aos dogmas da primazia e da infabilidade papal, promulgados pelo Concílio Vaticano I (1869-1870), o político e historiador inglês John Emerich Edward Dalberg-Acton (1834-1902), mais conhecido como Lord Acton, se pronunciou a respeito por meio daquelas palavras. Como católico influente, Acton temia que a igreja fosse corrompida pelo poder e chegou a tentar organizar uma oposição internacional ao decreto.Na opinião de John Stott, a sede de poder tem sido uma característica da história humana e “está presente na política e na vida pública, nos grandes negócios e na indústria, nas diferentes profissões e na mídia, e até mesmo na igreja e nas organizações paraeclesiásticas”. O conhecido teólogo inglês chega a dizer que “o poder é mais tóxico que o álcool e vicia mais do que as drogas”.
Ultimato - mais que notícias

sábado, 6 de dezembro de 2008

Vergonha nunca mais! - Lindo isso!

Na ocasião da "queda" do ser humano, uma das primeiras reações do homem e da mulher foi, diante da percepção da presença de Deus, querer afastar-se, eles desejaram esconder-se , não tinham mais a noção da presença ilimitada de Deus, esqueceram-se de que não há lugar onde Ele não esteja, que não existe o que Ele não saiba. O primeiro grande prejuízo foi perder a noção de Deus, de quem Ele é. E por não saberem mais isso, temeram, tiveram não respeito, mas medo tolo , que distancia e afasta.



(Gênesis 3:8-10) - E ouviram a voz do SENHOR Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do SENHOR Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o SENHOR Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.


As sequelas do pecado sempre são as mesmas, desejo de afastar-se, sensação de indignidade, ignorância de pensar que pode se esconder de Deus. O pecado é uma via que leva em direção à distância de Deus. Nós mesmos nos afastamos.


Mas...


(Hebreus 10:19, 20) - Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, Pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne,

Cristo abriu o caminho de volta, Ele mesmo é o Caminho. A separação criada pelo pecado, representada no judaísmo pelo véu de separação do tabernáculo , a idéia de distância de Deus não tem mais razão de ser.

Nunca mais alguém que está em Cristo precisa viver longe de Deus, nunca mais precisamos nos esconder.

Não há mais nada a fazer. Só nos resta crer nessa obra, e agradecer!


Vergonha nunca mais!

sábado, 15 de novembro de 2008

where's built the Church?


Unidade e Diversidade - VPC



Da multidão dos que creram era só um o coração
E a alma, uma somente, uma semente
Somente uma esperança brotando dentro da gente

Nosso era o pão cada dia,
Nosso era o vinho, santa folia
O que se parte reparte a própria vida
Galho ligado à parreira, vida em comum verdadeira.

Sempre grande poder, curas, milagres de Deus.
Sempre proclamação Cristo, o Senhor, ressurgiu.

Da multidão dos que creram era só um o coração
E a alma, muita alegria, singela a vida.
Na simpatia de todos nasce a igreja de novo
Povo de Deus, sal e luz pra todos os povos.

I see dead people


Infelizmente há muito lugar assim por aí...

Era uma igreja muito engraçada não tinha teto, não tinha nada...



Vale ler esse texto até o fim, caiu como uma luva nesse momento de reflexão sobre a "i"greja que devia ser a Igreja... Muito bom!!!


Essa noite, eu tive um sonho de sonhador, sonhei com uma igreja esquisita. Ela não tinha muros, piso, púlpito, bancos ou aparelhagem de som. A igreja era só as pessoas. E as pessoas não tinham títulos ou cargos, ninguém era chamado de líder, pois a igreja tinha só um líder, o Messias.
Ninguém era chamado de mestre, pois todos eram membros da mesma família e tinham só um Mestre. Tampouco alguém era chamado de pastor, apóstolo, bispo, diácono ou Irmão. Todos eram conhecidos pelos nomes, Maria, Pedro, Afonso, Julia, Ricardo...


Todos os que criam pensavam e sentiam do mesmo modo. Não que não houvesse ênfases diferentes, pois Paulo dizia: “Vocês são salvos por meio da fé. Isso não vem das obras, para que ninguém se glorie”, enquanto Tiago dizia: “A pessoa é aceita por Deus por meio das suas obras e não somente pela fé”.
Mas, mesmo assim, havia amor, entendimento e compreensão entre as pessoas e suas muitas ênfases.Não havia teólogos nem cursos bíblicos, nem era necessário que ninguém ensinasse, pois o Espírito ensinava a todos e cada um compartilhava o que aprendia com o restante. E foi dessa forma que o Agenor, advogado, aprendeu mais sobre amor e perdão com Dinorá, faxineiraNão havia gente rica em meio a igreja, pois ninguém possuía nada.


Todos repartiam uns com os outros as coisas que estavam em seu poder de acordo com os recursos e necessidades de cada um.
Assim, César que era empresário, não gastava consigo e com sua família mais do que Coutinho, ajudante de pedreiro. Assim todos viviam, trabalhavam e cresciam, estando constantemente ligados pelo vínculo do amor, que era o maior valor que tinham entre eles.


Quando eu perguntei sobre o horário de culto, Marcelo não soube me responder e disse que o culto não começava nem acabava. Deus era constantemente cultuado nas vidas de cada membro da igreja.


Mas ele me disse que a igreja normalmente se reunia esporadicamente, pelo menos uma vez por semana em que a maioria podia estar presente. Normalmente era um churrasco feito no sítio do Horácio e da Paula, mas no sábado em que eu participei, foi uma macarronada com frango na casa da Filomena.


As pessoas iam chegando e todos comiam e bebiam o suficiente.Depois de todos satisfeitos, Paulo, bem desafinado, começou a cantar uma canção. Era um samba que falava de sua alegria de estar vivo e de sua gratidão a Deus. Maurício acompanhou no cavaquinho e todos cantaram juntos. Afonso quis orar agradecendo a Deus e orou. Patrícia e Bela compartilharam suas interpretações sobre um trecho do evangelho que estavam lendo juntas. Depois foi a vez de Sueli puxar uma canção. Era um bolero triste, falando das saudades que sentia do marido que havia falecido há pouco tempo.
Todos cantaram e choraram com ela. Dessa vez foi Tiago que orou. Outras canções, orações, hinos e palavras foram ditas e todas para edificação da igreja.Quando o sol estava se pondo, Filomena trouxe um enorme pão italiano e um tonelzinho com um vinho que a família dela produzia. O ápice da reunião havia chegado, pela primeira vez o silêncio tomou conta do lugar. Todos partiram o pão, encheram os copos de vinho e os olhos de lágrimas. Alguns abraçados, outros encurvados, todos beberam e comeram em memória de Cristo.


Acordei com um padre da Inquisição batendo à minha porta.
Junto dele estavam pastores, bispos, policiais, presidentes, ditadores, homens ricos e um mandado de busca. Disseram que houvera uma denúncia e que havia indícios de que eu era parte de um complô anarquista para acabar com a religião. Acusaram-me de freqüentar uma igreja sem líderes, doutrina ou hierarquia; me ameaçaram e falaram: “Ninguém vai nos derrubar!”. Expliquei: “Vocês estão enganados, não fui a lugar nenhum, não encontrei ninguém ou participei de nada... aquela é apenas a igreja dos meus sonhos”.

por: Tonho