
Deus tira o bem do mal
O que a vida de José do Egito pode nos ensinar
Diante da realidade de nossas relações sempre tivemos ou temos pessoas ou poderes que decidem sobre nós, na infância temos os pais, os professores, ou os adultos de um modo geral, já na vida adulta temos o chefe, se somos mulheres temos o marido, na igreja temos o pastor, o líder, enfim, sempre em qualquer fase que vivamos existe alguém que não nós que decide coisas ao nosso respeito, que nos limitam ou autorizam. Mesmo quando achamos que já crescemos e ninguém mais irá decidir por nós temos outros poderes como o dinheiro, o sistema, a nossa cultura, o lugar de onde viemos, a nossa aparência, alguma doença, ou situação que tira de nossas mãos o controle e decide por nós , nos levando a caminhos muita vezes injustos, caminhos que nós não escolhemos, que não queremos. A conclusão a qual chegamos é que estamos nas mãos dessas pessoas ou poderes, e que como diz a música é melhor “ deixar a vida me levar”, poderia parar por aqui e essa seria toda a realidade ... mas a história de José do Egito não me permite chegar a essa conclusão simplista e pessimista da vida, ninguém melhor que ele viveu essa realidade e provou exatamente o contrário.
Durante um bom período da vida de José , pelo ao menos dos 17 aos 30 anos ele viveu situações em que outras pessoas decidiam por ele,uma verdadeira lista de pessoas más, injustas, desonestas, que tomavam decisões e pareciam determinarem o destino de José, nunca vemos o relato de que “ ... então José decidiu isso..” ou “ e José escolheu aquilo...” primeiro seus invejosos irmãos, que pensaram até mesmo em matá-lo, mas acabaram decidindo vendê-lo a uma caravana ismaelita ( Gn 37.27), depois sua vida e destino parecia estar nas mãos da caravana ismaelita que o comprara e podia tê-lo vendido a qualquer lugar, mas acabaram vendendo-o para o Egito como servo de Potifar oficial do Egito e capitão da guarda ( Gn37.28,36), depois , quando finalmente os ventos pareciam ser favoráveis, uma mulher lasciva, a esposa de Potifar é quem vai “decidir” sobre o destino de José, e num ato completamente injusto o manda para a prisão ( Gn 39.19,20) , após esse episódio , quando José parece estar novamente se estabelecendo, e tem uma esperança de sair da prisão após interpretar o sonho do copeiro do rei, esse esquece de José, que continua preso injustamente por mais dois anos, até que finalmente tem a oportunidade de interpretar o sonho do rei do Egito e sua vida começa a mudar, o restante da história , todos nós sabemos. Mas o que nos chama a atenção é que nesse período de 4 capítulos , que nós lemos numa só sentada em menos de meia hora, passaram-se aproximadamente 13 anos para José, e com certeza viver essas realidades injustas não foi tão simples como quando a lemos, durante esse período da juventude de José, seus irmãos, seus donos, uma mulher despeitada e um copeiro esquecido pareciam serem os responsáveis pelas injustiças, pareciam serem eles quem decidiam sobre seu destino ... a vida de José parecia estar sendo decidida pelo acaso e administrada por uma série de pessoas sem caráter, todos exerceram autoridade sobre José e os caprichos injustos da vida lhe causaram conseqüências gravíssimas ... essa é a história contada friamente , esses são os fatos visíveis , porém , a mesma história pode ser vista de outra forma , se por um lado ao fim de sua vida José tinha todo o direito de se tornar alguém amargo , a maneira como interpretou os acontecimentos fez toda a diferença ... após o fim da trama , quando reencontra seus irmãos José faz a seguinte declaração “Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos ...” ( Gn 50.20) para ele o mal que seus irmãos intentaram e fizeram foi revertido, em outras palavras, aos olhos de José, embora parecesse, na verdade a sua vida nunca esteve nas mãos da inveja de seus irmãos,ou na injustiça da escravidão ,ou no despeito da mulher lasciva ou em momento algum dependeu da memória de um copeiro , embora esses agentes planejaram e conseguiram fazer o mal para José, o Grande Senhor , Javé, transformou em bem, e esse Senhor é tão terrivelmente Soberano que até mesmo o mal se dobrou e acabou servindo seus propósitos.
Não posso garantir que José teve essa certeza todos os dias durante os treze anos de sua agonia,embora, no texto bíblico o narrador e escritor de Gênesis faz constantemente a afirmação de que o Senhor estava com José, mas penso que vez ou outra algum vislumbre de esperança e sentido deve ter presenteado José, do contrário ele teria enlouquecido, a visão completa e nítida da beleza do caminho que José trilhou é dessas que só podem ser percebidas no final, quando se olha pra trás, depois de ter percorrido todo o caminho.O sucesso de histórias como essas não dá pra provar por meio dos fatos e dizer “ - é óbvio que vai dar certo!”, não vem carregado de certeza invariável, na verdade é sustentado por vislumbres, por impressões, é do tipo que quando alguém te pergunta “- porque você está aqui?” ou “ – onde vai dar esse caminho?” , a única resposta sincera é “ – não sei , mas sinto que vai ser muito bom!”, é uma espécie de espera audaciosa que teima em existir mesmo quando se vê desafiada pelo mau caráter de pessoas ruins, pela falta de sorte ( se sorte existisse!), pela injustiça generalizada, ou qualquer outra coisa.
Reconheço que não poucas vezes me sinto nas mãos de pessoas más que parecem decidir meu destino, patrões autoritários, políticos desonestos, um sistema social injusto, pessoas de má fé, ou ás vezes o simples acaso ,que parecem me levar por caminhos que eu não escolho ou não mereço, ... mas ainda bem que tenho a história de José que pra mim tem sido um vislumbre de que é perfeitamente possível que essas pessoas ou poderes sejam agentes do mau e até me prejudiquem por um tempo, mas é impossível que no fim das contas todos eles não se dobrem e sujeitem ao Deus Soberano que tira “o bom e justo” até mesmo do mal, por enquanto continuo aqui sendo afetada por essas realidades e por isso enxergando e compreendendo pouco do que acontece , mas chegará o dia em que vou olhar pra trás e ver como era bonito o caminho que trilhava.
Que Deus nos ajude!
Rosilene Gomes Ribeiro