sábado, 23 de fevereiro de 2008

+ Rubem Alves

Meu pai me contou que, quando era menino, no início do século passado, guardava seus brinquedos num saco. Os brinquedos que meu pai menino guardava no saco: latas vazias, pedaços de barbante, sementes, sabugos de milho, botões, pedaços de pau, pedrinhas e todo tipo de coisas inúteis. Quando alguém aparecia para visitar minha avó ele pegava o saco de brinquedos e o esvaziava diante da visita. Certamente achava seus brinquedos interessantíssimos! A mãe dele ficava furiosa e lhe aplicava o devido corretivo de chineladas depois que a visita ia embora. A chinela era um dos itens favoritos que minha avó guardava no saco de brinquedos dela. As crianças continuam as mesmas. Ainda gostam de mostrar brinquedos. A gente cresce e continua criança. “Em todo homem há uma criança que deseja brincar...“ (Nietzsche). E todos temos o nosso saco de brinquedos. A fala somos nós abrindo o saco e despejando brinquedos... O saco de brinquedos: isso é de fundamental importância, quando o amor está em jogo. A paixão acontece quando, fascinados por uma imagem – pode ser um jeito de olhar, um jeito de sorrir, um jeito de falar... - imaginamos que dentro daquele corpo de imagem fascinante estão guardados os brinquedos com que gostamos de brincar. O que vemos é a imagem da pessoa amada, mas o que imaginamos são os brinquedos que julgamos guardados dentro dela. A imagem, sozinha, logo se transforma em monotonia. Ninguém consegue ficar o tempo todo contemplando a pessoa amada, por bonita que seja. O que alimenta a paixão não é a imagem mas os brinquedos que ela guarda... Hermann Hesse dizia que a pessoa objeto do nosso amor é apenas um símbolo, uma lagoa onde o rosto da “Outra“ aparece refletido. Que Outra? Aquela que imaginamos. Veja esses versos de Fernando Pessoa. Mas leia bem devagar...“Amamos sempre, no que temos,
O que não temos quando amamos.
O barco pára, largo os remos
E, um a outro, as mãos nos damos.
A quem dou as mãos?À Outra.
Teus beijos são de mel de boca,
São os que sempre pensei dar,
E agora a minha boca toca
A boca que eu sonhei beijar.
De quem é a boca? Da Outra...
E assim vai. Mas chega um tempo em que nos cansamos de dar as mãos, nos cansamos de olhar, nos cansamos de beijar. E dizemos: “Vamos brincar?“ Hora de abrir o saco, hora da verdade... Os brinquedos espalhados pelo chão, descobrimos que não eram os brinquedos que imaginávamos. O saco era lindo! E a beleza do saco nos enganou. Uma relação amorosa, para ser duradoura, tem de ser uma relação de brincar. Ela dura enquanto os dois brincam. Um gosta de brincar com bilboquê ou de ouvir música sertaneja, enquanto o outro detesta bilboquê e prefere ouvir música clássica... Aí o jeito é brincar sozinho. O Outro, quando aparece, é um desmancha-prazeres... Pergunta que os parceiros deveriam se fazer: “Temos prazer em brincar juntos? Ficamos felizes só em pensar que vamos brincar juntos?“ Se a resposta for negativa é melhor ir procurar outro saco...

Carpe Diem

"Carpe Diem" quer dizer "colha o dia". Colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre. A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente.
Rubem Alves

domingo, 17 de fevereiro de 2008

HOMO SAPIENS SOBRE A TERRA

Para enfatizar o impacto do Homo sapiens sobre a Terra, suponhamos que os 4,5 bilhões de anos de idade do planeta possam ser comprimidos num só ano. Dentro dessa escala, a existência da Terra teve início exatamente à meia- noite do dia 31 de Dezembro. Não sabemos nada sobre o que aconteceu nos sete ou oito meses seguintes ( cerca de três bilhões de anos), durante os quais o planeta assumiu suas formas e dimensões atuais. As primeiras formas de vida provavelmente surgiram no mar primitivo em algum dia de Março ou abril, mas só em 15 de Dezembro começaram a crescer as plantas terrestres e os dinossauros fozeram sua aparição. Os mamíferos surgiram e começaram a dominar a Terra mais ou menos em 26 de Dezembro. O homem em sua forma primitiva só entrou em cena lá pelas 20 horas do dia 31 de Dezembro. A agricultura e a domesticação ampla dos animais desenvolverasm-se a´roximadamente ás 23 horas , 59 minutos e 57 segundos, enquanto a Revolução Industrial teve início 1 segundo antes da meia- noite.Quase chega a ser inacreditável o prejuízo que causamos à Terra em apenas 1 segundo do nosso ano, ou 1/30.000.000 de de todo tempo de existência do Planeta!

fonte: Ernest E. Snyder . Parem de matar-me , o Planeta Terra em perigo. Ed Nacional: EDUSP, 1978. p. 109,110.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Até Tu Jesus ?!


O valor do lamento para a fé ...

Quando você quer verbalizar sua raiva mais intensa e irracional (quero dizer sem forma clara, inarticulada), você se dirige a quem? Você faria isso a uma pessoa que pudesse demiti-lo ou tirá-lo de uma posição ou de um relacionamento privilegiado? Não é muito provável. Você não confia nessas pessoas - Você não acredita que essas pessoas suportariam a profundidade de suas decepções, de sua confusão (...) A pessoa que ouve e , mais ainda, suporta seu lamento contra ele é alguém em quem você confia profunda e imoderadamente(...) Por mais estranho que pareça, a linguagem do lamento é o lado "sombrio" da fé.

Dan Allender- psicólogo cristão. in: A Bíblia que Jesus lia - Philip Yancey

Chupa essa manga !!!

Pois é ... durma com esse barulho!!!

Estatística divulgada na Internet mostrou que se fosse possível reduzir a população do mundo inteiro à uma vila de 100 pessoas, mantendo a proporção do povo existente no mundo na virada para o terceiro milênio , tal vila seria composta com a seguinte configuração:

57 asiáticos, 21 europeus, 14 americanos (Norte, Centro e Sul) e 8 africanos
52 seriam mulheres e 48 seriam homens
70 não-brancos e 30 brancos
6 pessoas possuiriam 59% da riqueza do mundo
80 viveriam em casas inabitáveis
50 sofreriam de desnutrição
1 teria computador e 1, apenas 1 teria formação universitária.
Vivendo com propósitos. Ed René Kivitz. p. 36

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Chegue perto de Ti!


Chegue perto de Ti essa minha oração
Dá ouvidos, oh Deus, ao meu clamor a Ti
Pois por dentro vou mal
Emoções vão pior
Estou cercado ao redor
Vou morrendo... Ai de mim, Senhor!
Chegue perto de Ti esse meu reclamar
Pois de noite e dia venho suplicar"
(Jorge Camargo)

ADEUS



E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão.


É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.


Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.


Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada.Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus. A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.


Rubem Braga, no livro A traição das elegantes.
texto extraído de: pavablog.blogspot.com